Foto: Beto Albert (Arquivo Diário)
As mensalidades das escolas particulares do Rio Grande do Sul para 2026 devem ter um reajuste médio 9,15% para 2026, com percentuais oscilando entre 8% e 11%, conforme a instituição de ensino. Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), realizada entre 24 de setembro e 7 de outubro. O levantamento contou com a participação de 174 escolas associadas, de todas as regiões do Estado, representando 57% do total de associados da entidade.
Conforme o estudo, os custos que mais impactam no orçamento das escolas são despesas com pessoal, com infraestrutura física, investimentos em tecnologia e pagamento de contas públicas, como água e luz. Esse percentual de aumento é significativamente superior à inflação projetada para 2025 (cerca de 4,8%).
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Principais motivos para o aumento:
- Custo da folha de pessoal e reposição salarial dos professores
- Aumento nos custos de infraestrutura física e lógica
- Investimentos em tecnologia e segurança
- Despesas públicas, como energia elétrica e água
Como é feito o cálculo
O presidente do Sinepe, Oswaldo Dalpiaz, explica que o valor da mensalidade é definido a partir da planilha de custos de cada escola, o que faz com que o reajuste varie em cada colégio, conforme particularidades e despesas específicas. Na prática, isso significa que algumas instituições aplicarão índices acima do percentual médio apontado pela pesquisa, enquanto outras poderão adotar valores menores.
– A realidade individual de cada instituição de ensino é o que determina essa variação. Se a escola realizou investimentos robustos, como a montagem de um novo laboratório ou a ampliação do prédio, é esperado que o reajuste seja mais alto do que o de uma escola que não precisou fazer esse tipo de investimento ou melhoria – explica Dalpiaz.
O presidente destaca ainda que, além dos custos fixos, existe um investimento significativo para adequar as escolas às novas tecnologias e metodologias de ensino.
– Também identificamos um aumento nos investimentos para o atendimento de alunos da educação especial. A contratação de monitores para atendimento da educação inclusiva já consta como o terceiro maior custo da escola, conforme mostra a pesquisa. A totalidade desses gastos precisa ser incluída no orçamento – complementa Dalpiaz.
Outro dado apontado pela pesquisa do Sinepe é a expectativa de crescimento no número de alunos: 64,9% das escolas que participaram do levantamento projetam um aumento em torno de 3% no número de matrículas para 2026. O índice é pequeno, porém mostra que as escolas estão respondendo às expectativas das famílias.

Impacto no orçamento
Para a trabalhadora autônoma Lenise Carvalho Dias, 43 anos, o reajuste no valor da mensalidade da escola do filho, que vai para o 6º ano do Ensino Fundamental, terá impacto direto no orçamento da família.
Ela revela que, apesar de previsto anualmente, o reajuste sempre impacta de alguma forma o orçamento da casa:
– Sempre fazemos ajustes. Às vezes, deixamos de fazer um passeio, uma viagem, para poder dar uma melhor qualidade de ensino para nosso filho. Não sou de gastar muito, então, não tenho o meu orçamento tão apertado. Mas eu sei que para muitas famílias não é assim. Às vezes, são dois filhos na escola, ou surge algum imprevisto que já fica mais pesado.
O economista e professor universitário Mateus Frozza explica que há uma grande diferença entre a reposição salarial que as famílias têm em suas rendas e o reajuste aplicado pelas escolas.
– Levando em consideração que as reposições salariais no período ficaram entre 5,5% e 6,5%, significa que as famílias estão empobrecendo em termos reais. Destaco que as categorias receberam reposição, e as escolas fazem reajustes. Caso os pais, mantenham seus filhos na instituição de ensino, vão ter que fazer cada vez mais escolhas para manter as mensalidades em dia. Caso contrário, teremos uma migração da escola particular para a escola pública – afirma.
Frozza também orienta que se a renda familiar não acompanha o reajuste, é preciso optar por ir para um colégio mais em conta.
– Outro ponto a ser destacado é que as bolsas de estudo diminuíram drasticamente – complementa o professor.
Prioridade ao diálogo
No período de renovação de matrículas, pais e escolas devem ter claros os valores para o novo ano letivo e como eles serão aplicados pela instituição. O mesmo vale para novas matrículas. A Lei 9.870/99, também conhecida como Lei da Mensalidade Escolar, dispõe sobre o valor total das anuidades e semestralidades escolares no Brasil. Ela estabelece regras para a fixação e cobrança de mensalidades em instituições de ensino particulares, como o cálculo do valor anual, os direitos e deveres de escolas e estudantes, as condições em caso de inadimplência, entre outros pontos.
Um dos aspectos que deve ser levado em conta por pais e responsáveis por alunos em escola privada é que a instituição deve disponibilizar uma planilha em que deve constar todas as despesas que justifiquem, por exemplo, o reajuste da mensalidade acima da inflação.
– Esse papel pode ser cumprido pela Associação de Pais e Mestres, nas instituições que possuem, porque muitas sequer têm para não ter esse tipo de embate ou oposição. Uma planilha de custo é facilmente justificável, sob ponto de vista econômico e contábil – explica o economista e professor universitário Mateus Frozza.
A apresentação da planilha de custos para justificar o reajuste das mensalidades está prevista na Lei 9.870/99.
Inadimplência
A cada ano, assim como o aumento das mensalidades, cresce o número de alunos inadimplentes. Estes casos também estão previstos na legislação federal.
A escola não pode, por exemplo, exigir quitação das mensalidades de outra instituição de ensino para receber um novo aluno que esteja na condição de transferência.
Quanto ao aluno que está inadimplente, ele não pode ser impedido de participar de nenhuma atividade pedagógica da escola no decorrer do ano. Pode fazer as provas, frequentar as aulas, inclusive pode se formar. Conforme a Lei da Mensalidade Escolar, com relação a um estudante inadimplente, o único direito que a escola é de não renovar a matrícula.
Diferenciais
Ao procurar uma nova escola, Frozza destaca que é preciso estar atento ao que é diferencial na qualidade de ensino e ao que são melhorias estruturais.
– Se um reajuste de mensalidade extrapolou o orçamento familiar, sugiro ir para colégio com o preço menor e com a qualidade do ensino semelhante. Mas é preciso estar atento. Justificativas como aumento de sinal de internet, elevador ou pintura, isso é o mínimo necessário e não um diferencial competitivo. Diferencial competitivo é aula de educação financeira, empreendedorismo, inteligência emocional e inteligência artificial, desde que a disciplinas não sejam ministradas pelo professor de matemática, filosofia, educação física, tudo em nome da carga horária. Então, é preciso entender bem o que a escola está oferecendo e planejando para o ano letivo – orienta o economista.
Como as famílias podem se organizar
- Negociação – Especialistas recomendam priorizar o diálogo e a negociação com a escola. Algumas instituições de ensino concedem descontos em casos específicos. É preciso se informar sobre essas condições
- Pesquisa – Buscar bolsas de estudo ou comparar as mensalidades com outras instituições para entender o valor de mercado, considerando itens como estrutura, quadro de professores e investimentos em tecnologia
- Planejamento – Os reajustes costumam ter pouca flexibilidade. Por isso, é importante se antecipar e planejar financeiramente